sábado, 27 de agosto de 2011

Crônica


E no caminho para casa, escutou vagamente, o que duas senhoras conversavam na estação do trem: “- Lutar é uma merda. Amar é uma merda. Viver é uma merda”.
Ela, com seus botões, concordou.

Merda.

Não julgou as senhoras, apenas lembrou-se da ultima vez que deu de cara na parede, por isso as compreendeu.
É verdade. Por que cair no chão dói. Dói levantar e ver que há uma janela, mesmo que lá fora esteja chovendo. Dói mais ainda, não querer abri-la. Dói ter medo, dói querer continuar sentada mesmo que este chão esteja frio.

Sim, lutar também é uma merda.

Se apaixonar então... Pronto. Aproveitou a deixa que sua memória dera, para lembrar-se, da última vez que encontrara a pessoa que parecia preencher todos os requisitos necessários para fazê-la feliz. E não fez. Não foi. Não deu.

Merda.

Só que chegou uma hora, que ela percebeu que entre todas as merdas e dores dessa vida, a que mais a machucava era o cansaço. Que por sua vez, batia apressadamente lá no peito, exigindo certeza, exigindo o agora.
Foi ai, em que as pernas que estavam cruzadas por tanto tempo naquela mesma posição, ficaram dormentes. E ela se deu conta que o remédio que estava na cozinha poderia ajudar. O frio de repente a sufocou, e o medo já não era mais medo, vai ver havia cansado também.
E quando finalmente decidiu se levantar, mesmo que com a ajuda do móvel ao lado, abriu a janela. Percebeu que além da chuva fina, o céu cinza escondia certa claridade, e que ela não incomodava tanto assim os olhos, que aos poucos se abriram para um novo (mesmo que distante) horizonte.
Se olhou no espelho. Sua boca esboçou um sorriso, o cansaço já não estava mais dentro, arriscava dizer que ia atrás.
Lembrou-se de quanto tempo perdeu.
Subiu no trem.
Ainda concordava.
Sim, viver era uma merda.

Mas que bela merda.