domingo, 25 de setembro de 2011

Papo furado



Pleno domingo, e eu, sem nada pra fazer. Mas tudo bem, tudo o que eu queria mesmo era UMA ligação. E nem era uma dessas grandes, era só uma ligaçãozinha.
Só que eu não estava tão louca a ponto de gastar o ÚNICO dinheiro que eu tinha: míseros dez reais (quantia que pra falar a verdade eu ainda me orgulhava em possuir). Mais eu disse ainda.
Por que chegou uma hora que eu não agüentei. É eu estava muito necessitada.
E afinal, quanto drama! Eu só ia ligar uma vez e os créditos duram um mês, né verdade?
Pois bem. Coloquei o bendito. Só que me ocorreu UM pequeno problema: mal peguei no celular, e começaram a chegar aquelas velhas-mensagens sobre o que vai acontecer na novela das 20h. É: "Quinze beija Dagmar e Marcela procura por ele, que a expulsa do Tupinambar." Bom, se por um milagre eu soubesse que são esses seres humanos, ficaria menos puta. 
Por que: COMO ASSIM QUE EU BOTO CRÉDITO E CHEGAM 20.000 MENSANGENS POR SEGUNDO GASTANDO O MEU LINDO DINHEIRINHO??!!!

Não, isso estava errado.

Depois de muito reclamar/xingar, liguei pra claro. Eu já estava com quase cinco reais a menos em pouquíssimo tempo. Esperei horrores pra falar com a atendente (e pra ouvir ela me dizer que eu tinha pedido o serviço).  Mas então: dados completos, ela me deu um número e disse que eu tinha que mandar a palavra ‘sair’. Tá, 48033.
Só que não se enganem.  Eu sou muito mula e esqueci o número assim que desliguei. Peguei a caneta, e tentei novamente. MAIS UMA HORA PERDIDA. 

Mas pronto, agora já está anotado: é só enviar, e fim. Lindo assim, porque das outras vezes eu já havia caído na de mandar ‘não quero mais mensagens’, ‘Sair.’, ‘não’; e essas coisas que todo mundo já fez na vida. 
Mas agora, rá, foi diferente. Enviei logo um SAIR com letras maiúsculas como tem que ser, pra cancelar essa desgraça.
Fiquei MUITO feliz, mais foi tipo assim: MUITO, quando chegou à mensagem onde a primeira coisa que eu li foi: “cancelamento realizado com sucesso”. Só que durou pouco. Pouquíssimo. Deixa eu ver... até  a terceira linha onde dizia que eu paguei QUATRO E NOVENTA E NOVE pra cancelar esta porcaria.

COMO É QUE É?! 
É tipo tropa de elite numa versão “pague pra sair”.
Agora me diga você, o que eu fiz? Cadê meu Deus agora? Eu mereço tamanha injustiça? Logo eu, que coloquei dez contos de crédito e duas horas depois tive que dar toque? Sério, eu fiquei muito revoltada. E eu ordeno que você sinta pena de mim agora.

Mas calma, tudo tem dois lados e apesar dessa confusão toda, eu descobri coisas que não teria descoberto se tivesse ficado dormindo como planejado...


Primeiro: eu ODEIO a claro mais do que eu pensava. E olhe que já pensava... Mais isso que eu sinto agora é novo, diferente, puro, INCONDICIONAL. É, eu sei que sou profunda.
Segundo: Um PORRAMERMÃO bem usado pode salvar sua vida E sua saniedade.
Terceiro: Oi, meu nome é Lisa e eu sou muito pobre. (isso eu já sabia)
Quarto:Jogar o chipe no chão não faz ele quebrar. E se você jogar com vontade, ele vai sumir. E se você jogar o aparelho junto, 100% das chances são de só CELULAR quebrar, e eu disse só. Acredite, experiência própria. Então: se controle.


E por último e não menos importante, um recado: 
Prezada atendente da claro, quem contratou esse serviço de merda, foi a senhora sua mãe. Um beijo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Valores.

Quando penso na morte, a única coisa de que consigo ter certeza é que não sei o que penso. Pois veja: morrer é uma coisa tão natural, que já nascemos até sabendo que mais cedo ou mais tarde irá acontecer.
Sim, a morte é imutável. Está presente em quase tudo, assim como a vida.
As flores e folhas morrem, os animais morrem, os sentimentos morrem. Nós morremos. E quando chega a noite, até o sol se vai.

E me dizem que esse é o grande espetáculo da vida.

A morte não liga pra nós, não liga para nossas obras, pouco se lixa para o que estamos ou não deixando pra trás. Portanto, eu tenho mania de achar que o que ela quer mesmo é nos ensinar a viver. Então, nunca tenho pena dos que se vão, no muito, é da forma como morrem. Mas me diga, há alguma justiça em morrer dormindo? Não. Lá no fundo, tudo é igual...
Sendo assim, tenho pena dos vivos, sobretudo dos que deixam de viver e ver. Que são de  natureza cega, daltônicos para as cores do mundo, e além de tudo, para a mistura delas.

Uma vez li que Deus “é isso aí”. E talvez seja! Talvez Deus seja mesmo o canto dos pássaros, seja toda essa imensidão azul, seja o sol que se afoga todos os dias no mar, mas que sempre raia novamente. Talvez Deus seja as estrelas, a lua, seja estar vivo.
Já vieram me contar da tristeza que é descobrir que se quer outra coisa, no meio da que já se está fazendo. Já pensou? Descobrir que quer fazer jornalismo, no 3° ano de direito? E aí? E aí que com toda a ironia que me é permitida, só resta dizer que a vida é curta. Muito.
O problema é que a gente tem mania de achar que a realidade é triste. E não é. Porque apesar de tanta desigualdade, tanta violência, tanta morte em si, a beleza é visível. Os sorrisos estão aí, a terra nunca para de girar, e o sol... Ah! o sol continua se pondo.
Sempre.
Assim, repito que o que a morte quer, é nos ensinar a viver. Ela nos trás outros ângulos, e talvez seja também parte de Deus.

Então, se um dia eu pudesse escolher como morrer, escolheria partir criança. Por que nada mais é preciso saber, do que ela sabe. Nada mais é preciso ter, do que ela tem.  Sim, pois mesmo com nada, a criança acha que tem tudo. Tudo que é preciso pra ser feliz. Ela tem Deus, tem paz. Ela enxerga.
Somos nós que estragamos tudo. São os carros caros, as casas caras, as roupas da moda. É essa política tão suja. É a poluição que embaça os olhos, que os cansa. Quantas vezes você já parou pra olhar aquela árvore que está ali todo dia? Na certa também nunca parou pra pensar em quanta vida há nela.
Uma criança não só faz isso, ela vai além: “bate um papo”.

Pena que talvez seja tarde demais para esse desejo. Ou não. Vai saber.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Papo furado: a SAGA.

Quinta-feira. 08/09. 07:30 da manhã.
Estava eu, em um ônibus lotado: via-centro. Pra tirar a bendita identidade.
Cheguei lá (finalmente), e não gosto nem de lembrar o que eu senti ao entrar. Uma verdadeira multidão. Tinha nego sentado, nego em pé, na fila, tirando foto, dormindo, se abanando, conversando, esfregando os dedos na máquina de tirar as digitais. É o tipo de lugar que você entra e quer sair. A única coisa que consegui pensar foi: AI, MINHA ALMA. Então, tentei convencer a madame que a porta da rua é a serventia da casa. Em vão.
O jeito foi se conformar, e esperar vagar um lugar nas paredes pra se encostar. Mais me diga o que seria da vida sem paciência? Enfiei o fone no ouvido, pezinho batendo, calor dos infernos. Meus pensamentos iam e vinham de cama para sorvete, sorvete para cama. Sério. Não sei quanto tempo passou. Escutei música, bebi água, conversei, tirei a camisa xadrez, coloquei de novo, destruí meu esmalte, e escutei mais música. Quando tava quase PAGANDO pra sentar, minha mãe desistiu de esperar: “Vamos voltar pra casa e mais tarde a gente vai no shopping Farol, por que deve ser mais tranqüilo por lá”. 
Quem sou eu pra discordar? Pelo menos lá tem ar-condicionado.
Bora, de volta ao lar.

Quando cheguei quis tirar o CPF, por que já que tá na chuva é pra se molhar, vamos fazer logo tudo. Fui aos correios. E não aconteceu exatamente do jeito que eu esperava. Fiquei MEIA-HORA esperando a mulher decidir se o sistema estava ou não fora do ar. Aí acho que ela cansou, e resolveu me informar, com a cara mais lisa do mundo todo. E eu olhei pra ela DAQUELE JEITO: “minha amiga! Eu tenho cara de palhaça? Que demora foi essa? Eu juro que iria compreender se você tivesse falado antes, mais agora eu só saio daqui com esse CPF!!!! Porque isso é um absurdo! Ah, e não me olhe. Eu exijo justiça pelas minhas pernas. Ok?” Tá, mais isso só aconteceu na minha mente. O que eu disse de verdade foi: Ah, e quanto tempo demora pra voltar? “Não sei... às vezes a tarde toda, sabe?” NÃO, NÃO SEI. Saí pisando. Voltei em casa, fui no shopping.
Quando cheguei eram mais ou menos duas horas, mais fui tomar um caldinho de camarão, que só pra constar, não continha camarão.
Após, entrei, subi. Exatamente 14:10. Bateu aquela felicidade quando eu vi que não tinha ninguém no centro de identificação. Entrei com um sorriso de orelha a orelha, como manda o figurino. E sem mais delongas, ela falou que o atendimento era apenas até as 14:00. Mais que lá no centro eram até as 18:00, e que pela tarde era bem calmo. MEU DEUS, eu amaldiçoou aquele caldo até agora. Eu saí e nem pedi brigado, ainda bem que raiva não mata. Decidi que eu merecia um descanso e fui assistir planeta dos macacos. Filminho meia-boca, acabou mais de 16:00.
Corri pro ponto, chuviscou, peguei o ônibus, derrubei a carteira na hora de passar pela roleta. Perdi dinheiro. Cheguei no centro. 17:15. Só faltei correr, atropelei um monte de gente, e para minha surpresa NÃO TINHA NINGUÉM. Como assim? Cadê aquela negada toda? Bom, menos mal. Peguei a ficha 205, e digo com toda certeza do mundo que as outras 200 foram entregues pela manhã. Aí esperei o comprovante e fui atrás de uma lotérica pra pagar a taxa. Rodei e rodei, até que um lugar me chamou atenção pela quantidade de gente na porta. Nem preciso dizer que lugar era. Fui pra fila. 17:48 foi a hora que consegui pagar, e saí SEM o troco completo, pra variar. 
Corri de volta. Cheguei em cima da hora, fiz essa desgraça, e nem comento a foto.
Peguei um ônibus ultra-lotado, mas pelo menos sentei. Acho que estavam dando dinheiro na pista.

Mas enfim, cheguei em casa. Cansada, sem paciência. Ainda fui na farmácia comprar acetona. E lá, NADA tinha preço. Sério, a permanente vai falir (é, é praga). Só de raiva peguei TODOS os tipos que encontrei e fiz ele conferir os preços de uma por uma, e ainda levei a mais barata. Coitado do cara, nem teve culpa.
Mas, o fato é que tá difícil virar gente hoje em dia. Então se um dia eu perder a identidade e precisar de 2° via, eu vou me suicidar, sério. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011



" (...) Uma tranquilidade sem sentido, estabeleceu-se em sua consciência, um sorriso quase abstrato retratava a paz que ele nunca sentira, uma paz que sempre buscou naquilo que o dinheiro pode oferecer, pois, na verdade não percebera as coisas mais normais da vida. E o que é normal nessa vida? A paz que para uns é isso e para outros aquilo? A paz que todos buscam mesmo sem saber decifrá-la em toda sua plenitude? O que é a paz? o que é mesmo bom nessa vida? SEMPRE teve dúvidas sobre essas coisas. 
Mas NINGUÉM pode dizer que não existiu paz numa cerveja bebida no bar do Bonfim, no pandeiro tocado nos ensaios da escola de samba, no riso de Berenice, no baseado com os amigos e nas peladas de sábado à tarde. Talvez fora muito longe para buscar algo que sempre estivera ao seu lado. Mas pode realmente haver paz plena para quem o  viver fora sempre se remexer no poço da miséria? Buscara algo que estava tão perto, tão perto e tão bom, mas o medo do orvalho repentinamente virar tempestade o fizera assim: cego para a bonança, que agora vinha juntamente com a dor, e talvez, e só talvez a paz estivesse no canto e no vôo dos passarinhos, na observação da sutileza dos girassóis vergando-se nos jardins, nos piões rodando no chão, no braço do rio sempre indo e voltando, no frio ameno do outono e do inverno, e no vento em forma de brisa. 
No entanto, tudo sempre poderia se agitar de um modo indefinido e cair na mira do seu revolvér. Mas alguém pode enxergar o belo com olhos obtusos pela falta de quase tudo que o ser humano carece? Talvez nunca tenha buscado nada, nem nunca pensara em buscar, tinha só de viver aquela vida que viveu sem nenhum motivo que o levasse a uma atitude parnasiana naquele seu universo escrito por linhas tão malditas


Deitou-se bem devagar, sem sentir os movimentos que fazia, tinha uma prolixa certeza de que não sentiria a dor das balas, era uma fotografia já amarelada pelo tempo, com aquele sorriso inabalável, e a esperança da morte ser realmente um descanso para quem se viu obrigado a fazer da paz das coisas um extremo campo de guerra. Aquela mudez diante das perguntas de Belzebu e a expressão de alegria  melancólica que se manteve para sempre, dentro do caixão. "


( Cidade de deus )




nota: Um dos melhores textos/trechos que já li!